A farsa da “meritocracia” na Educação
Sempre muito “midiático”, o governador de Alagoas, Renan Filho, anunciou, através do site oficial, que, por intermédio do programa intitulado “Escola 10”, criará o “14º salário” para professores e servidores das escolas da rede pública estadual que atingirem metas propostas pelo referido programa, como, por exemplo, o índice de aprendizagem superior a 95%.
É bom lembrar que este programa “Escola 10” nada mais é senão o velho projeto neoliberal de incentivo à chamada “meritocracia” (e não ao mérito), tão decantado pelos governos do PSDB, principalmente nos estados da região Sudeste e Sul, que tenta transformar a realidade da escola pública, como num passe de mágica, numa empresa privada, uma ação considerada retrógrada por especialistas da educação, tanto que, mesmo nos Estados Unidos, este “modelo meritocrático” não deu certo, como não pode dar certo em nenhuma outra parte do mundo.
Ao insistir em trazer, como se fosse uma “novidade” e uma “solução mágica”, elementos do mundo de negócios para resolver graves problemas existentes e persistentes na educação pública, o governo incorre em erro de avaliação e de ação estratégica, já que a área educacional pública tem peculiaridades e problemas históricos – como grave falta de infraestrutura, profissionais com carga excessiva de trabalho, baixos salários, salas de aulas insalubres, adoecimento em alta escala etc.
“Importar” para este quadro de “caos” e de grandes dificuldades vivido na educação e entre seus trabalhadores e trabalhadoras (magistério e demais profissionais em educação) uma proposta afeita à “lógica de mercado”, ou melhor, da COMPETITIVIDADE comum à “selva” do mercado capitalista, é, na nossa visão, um passo largo à caminho de DESVALORIZAÇÃO PROFISSIONAL dos/as trabalhadoras da educação, ao não reconhecer o necessário e óbvio MÉRITO, mas, sim, reforçar a “meritocracia”, que traz para um ambiente de desigualdades extremas uma “competição” inadequada e estéril, comparando a produção de profissionais com diferentes condições de trabalho.
A verdade é que a “meritocracia”, seja chamada de “Escola 10” ou por outro nome qualquer, promove a “disputa” a qualquer preço em detrimento da troca de experiências, anula processos sadios de colaboração na escola para reforçar o aprofundamento de um paradigma capitalista que diz que é necessário haver “competições” em todos os campos para que se alcance melhores resultados, desconhecendo as desigualdades nas condições de trabalho e de vida “na” e “dos” trabalhadores e trabalhadoras da área da educação.
Os gestores públicos que alardeiam a “meritocracia” como a “solução” para melhorar os índices educacionais precisam compreender que a escola não é uma “fábrica”, onde a produtividade é “lei” e se fabrica “produtos em série” e “padronizados”. Escola lida com ideias, escola tem sua própria e ainda difícil realidade, escola (e a educação) não pode(m) ser “mercantilizada(s)”.
Os gestores públicos precisam saber que este caminho da “meritocracia” vai gerar um quadro de assédio assustador e danoso voltado a “bater metas e mais metas”. E as escolas não são call centers pois, dentro delas, existem realidades às mais variadas: didáticas diferenciadas, dificuldades (ou facilidades) também diversas, alunos com graus menores ou maiores de facilidade de aprendizado, realidades sociais e geográficas diversificadas e diferenciadas etc.
Mais ainda, os gestores públicos precisam ver e reconhecer que, nesta realidade ora vivida, não existem condições de trabalho para se exigir a “meritocracia” como se exige em outras áreas do mundo capitalista. Repetimos, a escola não é uma “fábrica” nem a educação e o saber são “produtos” fabricados em linhas de produção para encher prateleiras de supermercados e “am/pm” (postos e lojas).
Criar programas para “aprovar” alunos em “escala industrial” como se isso fosse resolver os índices educacionais do país é, vale repetir, uma “solução estéril”, fadada, infelizmente, ao fracasso.
Em vez de “meritocracia”, que os gestores públicos reconheçam, isto sim, o MÉRITO das/os trabalhadoras/es da rede pública da educação. E que busquem pelos caminhos das ações reais e efetivas, resolver os graves problemas educacionais olhando as escolas e seus trabalhadores e trabalhadoras como de fato devem ser olhados: não como uma “fábrica” onde seus trabalhadores e trabalhadoras são apenas “peças” de uma engrenagem movida a metas e mais metas, desumanas metas a serem alcançadas.