7 de agosto de 2020

SINTEAL DEBATE desta 6ª feira (07/08) discutiu os desafios e lutas em relação à violência contra as mulheres

Fechando outra semana de lutas deste mês de agosto, o SINTEAL realizou, na tarde desta sexta-feira (07/08), mais um “SINTEAL DEBATE” (live), em seus canais no Youtube e Facebook. O tema desta vez foi “Violência contra as mulheres: lutas e desafios”.

Participaram da live a companheira Francisca Júlia (como mediadora e representante do SINTEAL), e três convidadas (palestristas) especiais: Aparecida Batista (professora da UFAL – Universidade Federal de Alagoas), Drª Paula Simony (advogada e representante do CDDM – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher) e Lúcia Maria (representante da Central Única dos Trabalhadores em Alagoas – CUT/AL).

A mediadora Francisca Lúcia abriu o “SINTEAL DEBATE” saudando o sindicato pela realização da discussão, e lembrou que “hoje é um dia importante, porque comemoramos os catorze anos de existência da Lei Maria da Penha, um importante instrumento de proteção das mulheres, com a legislação tornando mais rigorosa as punições contra quem comete agressões de gênero, principalmente no ambiente familiar e doméstico”

Mas Lúcia lembrou também que “hoje é, também, um dia triste pela morte da menina Beatriz, de apenas oito anos, vítima de estupro no município [alagoano] de Maravilha. Sua morte nos cobra enquanto educadoras. Nos força a perguntar o que estamos fazendo e o que podemos fazer enquanto educadoras e educadores para lutar contra este e outros tipos de violência contra as mulheres”.

Ela em seguida passou a palavra para a primeira palestrista do “SINTEAL DEBATE”, a professora Aparecida Batista, da UFPE – Universidade Federal de Pernambuco e Mestra em História Social”.

Para Aparecida Batista, “discutir a violência contra as mulheres é uma questão ligada à cidadania e à ética. Sabemos que a violência contra as mulheres é fruto do patriarcalismo e do machismo histórico que, até hoje, vivenciamos no Brasil.

Segundo ela, apesar de todos os avanços conquistados pela luta das mulheres em todos esses anos, “estamos num período de retrocesso, que está sendo agravado nesse período de pandemia e isolamento social”.

A professora lembrou que o Brasil ocupa, atualmente, a 5ª posição no ranking de violência no mundo, e, no cenário brasileiro, o Estado de Alagoas ocupa um “vergonhoso terceiro [3º] lugar entre todos os estados e o Distrito Federal, principalmente e infelizmente com os feminicídios, que, inclusive, atinge a nossa própria categoria, com assassinatos de professoras e outras profissionais da educação”. Para ela, “a luta para mudar esse quadro passa inevitavelmente pela educação, que é uma ferramenta fundamental de transformação social, de conscientização, mostrando, por exemplo, aos nossos alunos e alunas a importância do respeito ao próximo e às diversidades. A educação é, sim, um agente de transformação. Este é o nosso desafio enquanto educadoras e educadores”.

“Nós, educadores e educadoras, temos a responsabilidade de enfrentar esta luta. Quando há violência contra as mulheres, todos nós perdemos. Perde a sociedade, perde as famílias, perde o homem e perde a mulher. Uma vida sem violência é um direito das mulheres”, finalizou.

A segunda palestrista a falar na live foi a secretária da Mulher da Central Única dos Trabalhadores de Alagoas (CUT/AL), enfermeira e educadora popular Maria Lúcia (Lucinha), que iniciou sua participação trazendo o que chamou de “absurdo estarmos discutindo, em pleno século vinte e um [séc. XXI] a violência contra as mulheres, uma chaga social que já não deveria existir em nenhum âmbito, em nenhuma classe ou segmento social”

De acordo com Lucinha, “a causa desta violência é uma sociedade que foi fundada sobre preconceitos, sob a hierarquia e a soberania masculina”. “A expressão máxima dessa violência contra as mulheres acaba no óbito. Somos mortas por sermos mulheres, esta é que é a dura verdade. Somos desrespeitadas e assassinadas por causa da condição de gênero”.

Para a sindicalista, dois dos caminhos de luta contra esta realidade é a luta pelo direito à educação, mas também sem esquecer da luta para ganhar o “espaço público fora de casa e do trabalho doméstico, para mostrarmos que somos iguais em todas as situações. Precisamos ocupar os espaços com a nossa voz e a nossa força em prol dos nossos direitos e reivindicações, sair de nossa invisibilidade”.

Ela lembrou que no período de 2001 a 2014, mais precisamente nos Governos Lula e Dilma Rousseff, houve avanços nas condições de vida das mulheres, principalmente as vindas de extratos mais pobres da população. “Nesse período nos foram dadas condições de empoderamento”.

Um exemplo da queda desse empoderamento, Lucinha apresentou com a situação das profissionais enfermeiras, nesta época de pandemia da Covid-19. “Por nosso trabalho somos comparadas e chamadas de ‘anjos’, mas nós não somos ‘anjos’, somos trabalhadoras que corremos risco de vida para salvar vidas e não somos valorizadas profissionalmente”.

Ela finalizou sua participação alertando ser importante que as mulheres ocupem também cargos em sindicatos e outros movimentos da luta da sociedade organizada, “criar e fortalecer secretarias de mulheres nessas instâncias da luta democrática”. Mas, lembrou também “a importância fundamental do processo educativo nessa luta contra a violência às mulheres, “principalmente em Alagoas, estado que tem um vergonhoso histórico nesse quesito”.

“Por tudo isso temos que ir à luta contra esse covarde e vergonhoso processo histórico de violência contra as mulheres. E, por isso também, deixo um alerta para que as mulheres continuem tendo muito cuidado nesse período de isolamento social, de confinamento, e se defendam com a lei contra os agressores”.

Fechando o trio feminino e feminista de palestristas, falou a advogada e coordenadora da ONG CDDM – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher, advogada Paula Simony Ferreira.

A advogada citou, de início, citou frase da historiadora francesa Michele Perrot, que diz que “nós, mulheres, viemos do silêncio rompido”.

Para a Drª Paula Ferreira, toda esta luta contra a covarde violência sofrida pelas mulheres no Brasil, e especialmente em Alagoas, “passa pelo direito à educação. A própria ONU [Organização das Nações Unidas] enfatiza que sem educação não há igualdade de gênero”. Ela apresentou percentuais dando conta que, em nosso país, no universo de meninas de 15 a 17 anos de idade, 75% estão fora da escola. “Se tiverem ‘sorte’, vão arranjar mal remunerados empregos domésticos, e vão ficar na invisibilidade”.

Segundo ela, existem estudos que enfatizam que, durante este período de isolamento social de luta contra a pandemia da Covid-19, houve um aumento nos casos de violência contra as mulheres, “porque é em suas casas que as mulheres, em sua maioria, vivem confinadas”. Segundo ela, houve aumento de 22% nos feminícidios e um aumento de 44% de chamadas para o sistema 190 [número da emergência policial], principalmente realizadas por vizinhos querendo ajudar.

Paula elencou alguns objetivos que considera importantes nessa luta, que passa por vencer as barreiras estruturais; entender as políticas públicas de proteção à mulher para saber utilizá-las; consolidar um atendimento mais amplo e em todas as regiões do Brasil para que as mulheres vítimas de violência tenham acesso à Lei Maria da Penha; trabalhar a reeducação masculina e, fundamentalmente, buscar a criação, urgente, de uma rede nacional de proteção à mulher.

A advogada finalizou observando que “a violência de gênero é um grande iceberg, e precisamos não só olhar a pequena parte que está visível. É na maior parte que está abaixo que precisamos nos preocupar. Com o silenciamento, a invisibilidade, com, por exemplo, a cultura machista através da publicidade. É contra esta difícil realidade que precisamos lutar. E esta luta passa pela educação, sempre pela educação. A violência contra as mulheres precisa ser discutida nas escolas”.

Próximo “SINTEAL DEBATE” será na 3ª feira (11/08)

Fiquem atentas/os para o próximo “SINTEAL DEBATE”, a ser realizado na próxima 3ª feira (11/8), a partir das 15 horas, também nos canais do SINTEAL no Youtube e Facebook, e que discutirá o tema: “Acesso à educação em tempos de pandemia”, que terá a participação do diretor do SINTEAL, profº Lucas Soares (mediador) e a participação do diretor da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Herbert Coelho, e dos estudantes  Roniel Rodrigues (ensino médio) e Geovani de Araújo Lima (Educação de Jovens e Adultos).