12 de janeiro de 2021

ADIA ENEM Com Covid-19 em alta, entidades, sindicatos e pais de alunos reivindicam: adia Enem

Foto: Reprodução Twitter

Com mais de 8 milhões de casos de Covid-19 no país e com média móvel de mil mortes por dia, devido a complicações da contaminação da doença, a jornalista Lílian de Castro Silva ainda tem dúvidas se vai liberar sua filha para fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos próximos domingos, 17 e 24 de janeiro. Mesmo com as medidas de segurança que serão tomadas durante as provas, alunos e pais dizem não serem suficientes para evitar o contágio e proliferação do vírus e pedem: “adia Enem”.

“Acredito que mesmo com todos os protocolos de segurança, não acho o momento seguro. Há muitos jovens assintomáticos circulando por aí. Minha filha acha que é seguro, porque este ano colocaram mais salas disponíveis e número menor de candidatos. Ela vai fazer como   “treinamento”, mas ainda não resolvemos se vamos deixá-la ir. Achava mais seguro esta prova ser aplicada após vacinação. É melhor adiar”, afirma a jornalista.

A alta da covid-19, em todas as regiões do país, também foi o motivo para que entidades da educação e sindicatos protestem e fortaleçam a bandeira de luta: “adia Enem”.

Não é a primeira vez que o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) agenda o Enem no meio da pandemia. No ano passado, o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) anunciaram no mês de maio do ano passado, o adiamento do Enem, que estava marcado para novembro, para este mês de janeiro de 2021. Em média, 5 milhões de candidatos participam do exame.

O Fórum Nacional Popular da Educação (FNPE), que reúne mais de 45 entidades, entre elas a CUT e a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), já tinha se posicionado contrário à execução do Enem durante o crescimento da contaminação e mortes pela Covid , em maio.

presidente da CNTE, Heleno Araujo, disse que o governo não respeitou nem a vontade dos que vão fazer a prova. Segundo ele, houve uma consulta com os inscritos e o resultado mostrou que grande parte dos estudantes queria o adiamento do exame.

“Nós não saímos da situação da pandemia, pelo contrário, ela se agrava na Europa, na América e aqui no Brasil. É uma situação muito perigosa deixar estes alunos até 5 horas dentro de uma sala, sem ventilação e em um clima de alto risco de contaminação que estamos vivendo. Além disso, o resultado da consulta online que fizeram com a população nada valeu”.

“Pensar uma outra data para realização dessas provas é importante para garantir a vida das pessoas e também contribuir com o acesso de quem não pôde fazer seus estudos de forma adequada durante este período de 2020 até o início de 2021”, explica Heleno.

Para o secretário de Cultura da CUT, representante da CUT no FNPE e professor, José Celestino, o Tino, manter o Enem para os próximos domingos será um prejuízo para estudantes e escolas públicas. O dirigente ainda fala sobre o descaso de Bolsonaro com a educação e com a classe trabalhadora.

“Devido ao ataque de Bolsonaro à educação pública, os alunos e alunas tiveram uma redução, muito drástica, na possibilidade de ter acesso à educação, seja por falta de aparelhos celulares ou de transmissão dos conteúdos feita pelos próprios governos estaduais e federal. Além do adiamento, é preciso que se faça um plano que possibilite que todos e todas tenham minimamente acesso à educação e preparação para o Enem, uma vez que já constatamos que a ampla maioria das vagas nas universidades públicas nesses últimos anos são de jovens da classe trabalhadora”, afirmou.

Em comunicado as bancadas do PT no Senado e na Câmara dos Deputados também defenderam, o adiamento da aplicação das provas impressas do Enem em razão do aumento de casos de covid-19 no país. Parlamenatres  reforçaram o pedido ao argumentar que o país enfrenta uma segunda onda de contágio, indicando o agravamento da crise sanitária.

Luta nas redes sociais

Nas redes sociais o adia Enem também teve visibilidade nesta segunda-feira (11). O Adia Enem Urgente ficou entre um dos assuntos mais  comentados  no Twitter, com quase 6 mil tweets.

Em outro post nesta rede social, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas disse que se o MEC de Bolsonaro insistir em ignorar seus  pedidos e reivindicações, a entidade vai mobilizar a internet pelo adiamento da prova e garantir que o Enem não seja realizado em condições inseguras. “ADIA ENEM URGENTE”, ressaltou a entidade.

O professor e líder do MTST, Guilherme Boulos, disse também no Twitter que a educação tem que caminhar com a preservação da vida: “Por isso, todo meu apoio ao movimento dos estudantes: ADIA ENEM URGENTE!”.

Outra publicação de uma usuária do Twitter disse que “o Inep tá querendo colocar todo mundo na faculdade de medicina, só esqueceram de avisar que é como cadáver’.

O adia Enem também é assunto da Justiça

A Defensoria Pública da União pediu, na última sexta-feira (8), à Justiça Federal de São Paulo, em tutela de urgência, o adiamento do Enem por conta do avanço da pandemia de Covid-19 no Brasil.

As principais entidades estudantis do país, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), entraram como “amicus curiae” (amigo da corte) na ação. Eles já haviam encaminhado ofício ao MEC pedindo o adiamento, mas a Pasta negou a possibilidade de mudança para uma nova data.

CNTE também ingressará, ainda hoje, com petição de amicus curiae em concordância com as ações movidas pelo Ministério Público e a Defensoria Pública Federais contra a realização do Enem, a partir do próximo fim de semana. A entidade não está muito animada com a força que vem da justiça.

“Adiantamos que o cenário para esse julgamento não é nada animador, dada a realização de outros certames de vestibulares realizados recentemente, sobretudo em SP, bem como pela autorização judicial para realização de outros concursos públicos, também em período recente. Vale lembrar ainda, que no ano passado a Justiça Federal indeferiu ações do MPF requerendo o adiamento do Enem. A situação foi “ajustada” só em maio com a posição do Inep em adiá-lo para janeiro de 2021”, explicou Heleno.

(Érica Aragão, CUT Brasil, 12/01/2021)