3 de agosto de 2021

Primeira Roda de Debate do 15º Congresso do Sinteal discutiu a luta contra o neoliberalismo e por soberania dos povos na América Latina

O 15º Congresso dos/as Trabalhadores/as em Educação de Alagoas abriu, nesta segunda-feira (02/08), a série de Rodas de Debates programadas para este mês de agosto, realizadas na plataforma Zoom com participantes inscritos via formulário online. O tema foi “As lutas internacionais contra o neoliberalismo e por soberania dos povos”, tendo como palestrantes Rafael Freire, secretário-geral da Confederação Sindical das Américas (CSA) e Tica Moreno, doutora em Ciências Sociais e militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM).
Abertura

A coordenadora da Roda de Debate, Patrícia David, secretária de Imprensa e Divulgação do Sinteal apresentou ao público virtual a programação em quatro etapas do 15º Congresso, que vai até o mês de novembro, com a realização de mais cinco Rodas de Debates e dos congressos municipais, regionais e estadual.

Fala, Rafael!

Centrando sua abordagem na luta de resistência dos povos da América Latina contra o neoliberalismo, com a chegada ao poder de governantes de direita e extrema direita como, por exemplo, Donald Trump (ex-presidente do Estados Unidos) e Jair Bolsonaro, Rafael Freire alertou, inicialmente, que o que está em jogo é a democracia e a liberdade de organização e expressão não apenas no Brasil, mas em países como a Argentina, Chile, Colômbia, Peru, dentre outros.

Ressaltando o processo histórico de resistência dos movimentos sindical e social, Freire relembrou as lutas contra a ditadura militar no Brasil e na América Latina e apontou também como referência a luta histórica contra a criação da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas, nefasto acordo que buscava abrir as fronteiras dos demais países do continente aos produtos das multinacionais dos Estados Unidos, e que foi derrotado pela luta dos movimentos populares, “incluindo os sindicatos”, disse.

Para Freire, no entanto, a atual realidade vivida no Brasil e na América Latina, reforçada pelo efeito de isolamento causado pela pandemia de covid-19, evidencia ainda mais a necessidade de continuar a luta contra uma nova onda neoliberal, que ocorre no Brasil, mas também no Chile, na Argentina, na Bolívia (“derrotando um golpe de Estado”), e vivenciando também, segundo ele, uma “situação grave de repressão, massacres e mortes de democratas, inclusive sindicalistas, na Colômbia”, e uma vitória importante nas eleições recentes no Peru.

Segundo Freire, “a pandemia colocou novas perspectivas, como a evidência da necessidade do Estado, a importância dos sindicatos e a importância, mesmo, do trabalhador diante do processo de automação e de novas tecnologias”.

A palavra-chave colocada por Rafael Freire, em sua intervenção, foi “unidade”. Para ele, “é preciso que tenhamos um padrão de unidade no movimento sindical para derrotar o programa liberal, derrotar Bolsonaro, mas sem deixar outro projeto liberal no poder”. A luta de resistência passa pela defesa do Estado e das políticas públicas e pela construção da unidade sindical. “Temos um desafio enorme, por exemplo, na luta sindical, porque precisamos descer do carro-de-som para olhar no olho da sociedade”, enfatizou.

No final de sua primeira fala, Freire alertou que, em 2022, “teremos que lidar com uma eleição plebiscitária, e precisaremos derrotar o neoliberalismo e encontrar novas saídas e perspectivas para o Brasil. Precisamos transformar o esperançar, que dá nome ao congresso do Sinteal, em luta ativa”.

Fala, Tica!
Segunda palestrante da Roda de Debate, Tica Moreno alertou que não dá para abordar as lutas nacionais e internacionais, mais especificamente na América Latina, “sem falar na pandemia e, com as transformações causadas pelo isolamento social, nas disputas que temos com os agentes do neoliberalismo”. Ela foi no alvo: “as elites nacionais cada vez mais avançam em seus objetivos e é preciso barrá-las”.

“Para nós, da Marcha Mundial das Mulheres, está mais do que evidenciado que o centro deste embate é o poder corporativo e sua capacidade de organização, que busca privatizar, inclusive, a política em todos os âmbitos, através da imposição de uma agenda que utiliza como estratégias o autoritarismo de mercado, a militarização e até formas de preconceito como o racismo”, disse.

Segundo ela, é preciso construir, a partir das experiências e exemplos de luta em outros países da América Latina, “as nossas propostas e a nossa resistência contra este avanço do projeto neoliberal no Brasil, com a ascensão de Jair Bolsonaro à presidência do país. E, para isso, as lutas populares na Colômbia, no Chile e no Peru, por exemplo, tem muito a nos ensinar”.

Cuba – que sofre há décadas um criminoso bloqueio econômico e comercial imposto pelos Estados Unidos, inclusive continuado pelo presidente Joe Biden – e Colômbia foram citadas pela palestrante como uma referência de luta e resistência. “Mesmo com o bloqueio, mesmo na pandemia, Cuba desenvolveu cinco vacinas contra o vírus para contribuir no processo de luta contra o covid em nível local e mundial, e a Colômbia – com uma realidade convulsiva de colapso social -, sofrem com o silêncio dos meios de comunicação hegemônicos, que não noticiam o que acontece, de fato, com estes países e suas populações, em nome de um projeto neoliberal ditado pelas grandes corporações”.

Segundo Tica, estes dois exemplos (Colômbia e Cuba), remetem à situação vivida no Brasil, e reforça a necessidade da construção de alternativas em prol da soberania dos povos. A realidade desses dois países “chama para a responsabilidade que temos com o Brasil e para a necessidade da construção de um governo progressista”.

Ela enumera os desafios principais que são a resistência contra o autoritarismo e os ataques do mercado; a construção da unidade e a diversidade de protagonismo, mas com uma agenda política e programática comum. “Precisamos construir forças pelo Estado, em prol do Estado e na disputa pela população, e, evidentemente, esta disputa se dá na comunicação, no fortalecimento dos nossos instrumentos de luta. Enfim, precisamos construir a luta a partir do esperançar”, disse.

Tica Moreno reafirmou a necessidade de construir formas de organização a partir de experiências concretas. “Não é uma meme que vai resolver todos os nossos problemas. Neste momento de ataques à democracia, é preciso que construamos espaços de escutas, buscar o diálogo para combater este neoliberalismo autoritário. Enfrentemos esta conjuntura a partir da formação das nossas bases, que é um desafio muito grande, mas linkando a nossa agenda de lutas local e nacional com a agenda internacional”.

Fechando a Roda de Debate, Rafael Freire observou que o que aconteceu no Brasil e gerou a eleição de Jair Bolsonaro para presidente “é o poder das corporações”. Ele alertou que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, vai recuperar a agenda liberal e criar uma nova “guerra fria” mundial, entre o Norte e o Sul.

E alertou para o caminho de luta contra esta onda de neoliberalismo: “Se não existissem os sindicatos e os movimentos sociais toda esta realidade seria muito pior. Por isso, a necessidade de união e organização. O objetivo da CSA, então, é recompor o sindicalismo na América Latina com organização sindical, formação política e comunicação sindical”. Para ele, “é preciso trazer a sociedade para o nosso lado e jogar no esgoto este neoliberalismo e o Governo Bolsonaro. Façamos o nosso papel como movimento sindical, com sindicatos fortes e unidos. Ou a gente se junta, ou ninguém vai fazer por nós!”.

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