29 de novembro de 2021

Em seu 2º dia, Congresso do Sinteal debate novos e velhos desafios do trabalho na educação

Mesa de debate sobre Novos e Velhos desafios do trabalho na educação (Foto: Arantos)

Os novos e velhos desafios do trabalho na educação foram tema da mesa de debate deste domingo (29) no 15º Congresso Estadual dos Trabalhadores da Educação de Alagoas. Composta por Heleno Araújo (presidente da CNTE), Iracema Nascimento (FEUSP) e Josefa Conceição (Sinteal), a discussão foi uma importante análise do momento que estamos vivendo e apontou caminhos para a luta.

Heleno abriu as falas com uma reflexão sobre o papel que a luta dos trabalhadores e trabalhadoras da educação tem exercido ao longo da história. Em sua avaliação, há uma resistência em setores da sociedade brasileira em ver a transformação na vida da população.

Heleno Araújo, presidente da CNTE (Foto: Arantos)

“A elite do nosso país não aguenta ver os filhos da classe trabalhadora concluírem qualquer curso de nível superior”

Lembrou fatos importantes como a conquista do Plano Nacional da Educação contemplando o debate democrático realizado na Conferência Nacional da Educação, durante o governo do Partido dos Trabalhadores.

“Ali [CONAE] era o espaço de diálogo, de construção de políticas para a educação. Mas fomos cortados pelo golpe de 2016, e com isso o desafio só aumenta. Temos que defender o exercício da prática cidadã no ambiente da escola”.

O presidente da CNTE prosseguiu criticando a demagogia nos discursos de representantes políticos sobre a educação. “Muitas vezes colocam toda a responsabilidade sobre a escola e os profissionais da educação, sem dar nenhuma condição”.

Sobre o Governo Bolsonaro, endureceu ainda mais a fala. Apontou momentos do mandato em que o acesso à educação foi negado. “44 mil escolas não tem acesso à internet, e Bolsonaro vetou o Projeto de Lei que fornecia equipamentos para as escolas. Ele não tem nenhuma intenção de aplicar a política que nos ajude a superar esses desafios”.

Ele apontou os caminhos da luta da categoria no país inteiro. “Não precisamos nos desesperar, basta fazer os que estamos fazendo com a orientação do sindicato, estamos em mobilização nacionalmente. Esse ano o tema da CONAE é sobre isso, ‘Reconstruir o país’”.

 

Mesa de debate (Foto: Arantos)

Desconstituição de direitos

Iracema introduziu sua fala com uma nuvem de palavras pontuando os desafios da conjuntura e da política educacional mencionados por Heleno. Teto de Gastos, Reforma Administrativa, Reforma da Previdência, Educação Domiciliar, Escola Militarizada, Escola Sem Partido e Reforma do Ensino Médio foram alguns dos temas tenebrosos expostos por ela.

Em forma de alerta, ela explicou que há uma manipulação de dados proposital para criar uma narrativa reducionista sobre economia. “O governo usa essa lógica do pânico, fala que o país vai quebrar para justificar essas reformas”.

Segundo a pesquisadora, há vários golpes dentro do golpe de 2016, como a Emenda Constitucional 95 (que criou um teto de gastos impedindo investimentos no setor público por 20 anos), e a Reforma Trabalhista (que retirou uma série de direitos conquistados dos trabalhadores).

Comparou a promessa feita na hora de aprovar esses projetos, com a realidade vivida após a sua implantação. Iracema lembra que eles prometeram um ajuste fiscal, mas o que estamos tendo é fome, desemprego, pobreza e estagnação econômica.

Expondo notícias que mostram o lucro exorbitante dos grandes bancos neste momento de recessão, ela provocou. “A gente ouve falar em crise, mas é só para a gente que vai no mercado e não consegue comprar feijão, tem pouca gente ganhando muito dinheiro”.

Citando Paulo Freire, ela reforçou o chamado para a mudança pela mão da educação. “É nesse ambiente hostil que educadoras (es) são desafiados a pensar e agir por uma educação como processo ‘dominantemente crítico’ e como prática emancipatória’ capaz de colaborar com o ser humano na indispensável organização reflexiva de seu pensamento’”.

A realidade em Alagoas

Trazendo o debate para a realidade de Alagoas, Josefa Conceição iniciou sua participação enaltecendo os delegados e delegadas presentes. “Tenho muito orgulho de olhar daqui e ver cada um de vocês, guerreiros e guerreiras contra os coronéis remanescentes deste Estado”.

Ela fez referência ao teórico Darcy Ribeiro para lembrar que tudo que está acontecendo é um projeto. “Ele disse na década de 70 que isso iria acontecer, e o projeto está muito vivo. Infelizmente a gente está na luta dos municípios e vivencia esse projeto que nos torna em muitos momentos cansadas e vulneráveis, mas a gente não vai desistir nunca, esperançar sempre”.

Para Josefa, houve um período de avanços quando o país estava sob o governo do Partido dos Trabalhadores. “Vimos assentar algumas de nossas bandeiras, e essas bandeiras estão com o cabo quebrado agora. Conquistamos o Piso do Magistério, financiamento para a educação e muitas outros direitos que querem retirar agora”.

Em Alagoas, ela criticou a política de Renan Filho. “Esse projeto adestrador de educação, tecnicista e meritocrata de educação, a gente não quer. Nesse governo saímos das Coordenadorias de Ensino para Gerências de Ensino, a meritocracia foi implantada ampliando as desigualdades. Também teve o modelo de educação integral que tira o processo de eleição dos que vão dirigir essas unidades de ensino”.

Ela explicou como o Sinteal, orientado pela CNTE, tem aplicado estratégias para negociar com os municípios alagoanos mesmo com as travas da EC 95. “Saímos a discutir a recomposição salarial pelos índices inflacionários, garantido na constituição. Isso tem gerado muita luta contra prefeitos”.

Convocando a todos para fortalecer o enfrentamento, a dirigente do Sinteal esclareceu: “Tem que parar com isso de dizer que sindicato não pode se meter na política, é a política que garante o nosso salário. Tem que botar um nome na Assembleia Legislativa pra quando chegar um projeto que desconta 14% dos aposentados não ser aprovado imediatamente, como aconteceu recentemente”.

E foi além. “Se a gente não se une, outras ‘facções’ se unem. Facção poderosíssima chamada AMA [Associação dos Municípios Alagoanos] se reúne para nos destruir. Eles se reúnem toda semana e a gente ainda não entendeu que quando o sindicato chama para a assembleia tem que estar lá. Se a gente não tem tempo, eles tem tempo de sobra para nos destruir”.